Observação de Aves no Perau de Janeiro - Arvorezinha/Soledade

            Nos últimos dias 19 e 20 de novembro, realizamos a saída mensal dos observadores de aves dos vales do Rio Taquari e Rio Pardo - COA Vales. Estiveram presenta na saída o Samuel, Morci, Tafael, Astor, Cleberton e a Leila. Desta vez visitamos o Perau de Janeiro, localizado na Linha Torres Gonçalvez no município de Arvorezinha. O local está distante cerca de 20 km da cidade de Arvorezinha e fica nas margens do Rio Forqueta, na divisa com o município de Soledade. O perau possui, aproximadamente, 200 metros de altura e encontra-se no município de Soledade, ou seja, do outro lado do Rio Forqueta. O local possui infraestrutura para receber visitantes e apresenta 3 cabanas mobiliadas que acomodam 20 pessoas.
           Existem algumas trilhas no local, mas a mais conhecida e realizada é a trilha que leva até a cachoeira. Ela apresenta cerca de 2 km de extensão e passa por capoeiras e matas de galeria ao lado do Rio. Existe também, a trilha que leva ao topo do Perau. Esta trilha é mais complicada de se fazer, pois exige um certo nível de preparo físico e disposição para transpor o Rio e encarar cerca de 1 km morro acima, bem puxado em alguns pontos. Esta trilha apresenta uma parte de capoeiras, ou seja, mata em regeneração, uma parte com mata mais fechada e outra parte com arbustos em meio a rochas, e ainda, no topo tem-se as lavouras de culturas anuais (geralmente soja).
Vista geral do local. Fonte: Imagens do Google Earth, elaborado por Cleberton Bianchini
          Saímos da região baixa do Vale do Taquari no início da tarde, e andamos cerca de 120 km até o local (uns 8 km de estrada de chão). Na saída do asfalto para a estrada de chão, avistamos uns indivíduos de Pseudoleistes guirahuro (chopim do brejo) e mais 3 indivíduos de Xanthopsar flavus (veste amarela) que nos chamaram a atenção. Chegamos no perau por volta das 17 h.
          No sábado a tarde fizemos a trilha da cachoeira e retornamos já escuro. Nesta trilha avistamos diversas espécies, dentre elas Turdus subalaris (sabiá fereiro), Leptotila verreauxi (juriti pupu), Setophaga pitiayumi (mariquita). Um casal de Hirundinea ferruginea (gibão de couro) chamou nossa atenção por estarem em galhos no meio de um campo aberto, pois geralmente estão em locais que tem rochas. Estavam aproveitando os insetos que voavam nesta área aberta. Ficamos por uns momentos neste local para ver o que aparecia. Certo momento alguém vasculha o céu, vê um urubu e diz, bem que podia aparecer uma água chilena por aqui, seria bem legal. Minutos depois estávamos todos vasculhando o céu e, CACILDA, tem uma águia chilena ali. Realmente havia uma Geranoaetus melanoleucus (águia chilena ou serrana) sobrevoando o local. Acompanhamos ela com os binóculos e câmeras, e quando percebemos eram dois indivíduos. Ficamos observando até elas sumirem da vista. Depois ainda voltaram e pousaram em uma árvore no perau.
Hirundinea ferruginea (gibão de couro). Foto: Cleberton Bianchini

Vista geral da trilha da cachoeira, dentro da mata. Fotografia de Samuel Oliveira
Margens do rio forqueta na travessia do rio. Fotografia de Cleberton Bianchini
Trilha da Cachoeira. Integrantes Tafael, Astor, Samuel, Cleberton e Morci. Fotografia: Leila Ponciano
           No retorno da trilha da cachoeira, ainda escutamos o Lurocalis semitorquatus (tuju) e um casal da Megascops sanctaecatarinae (corujinha do sul), que estavam cantando ao lado da cabana e ficaram por um bom tempo vocalizando. Mais tarde da noite, também escutamos a Megascops choliba (corujinha do mato) vocalizando.
          No domingo pela manhã, o dia amanheceu com muita neblina. Ficamos observando um pouquinho no pátio. Encontramos por ali a Empidonomus varius (peitica), Pachyramphus castaneus (caneleiro), Pachyramphus castaneus (trepador quiete), Leptasthenura setaria (grimpeiro) que estava nas araucárias do pátio, entre outras espécies. Retornamos para a trilha da cachoeira, até que a neblina dissipasse um pouco. Na trilha encontramos Veniliornis spilogaster (picapauzinho verde carijó), Stephanophorus diadematus (sanhaço frade), Sporophila caerulescens (coleirinho), Turdus albicolis (sabiá de coleira), Elaenia obscura (tucão), Euphonia pectoralis (ferro velho), Phyllomyias virescens (piolhinho verdoso) que vocalizou por algumas vezes na mata após o descampado, um bando de Pionopsitta pileata (cuiú cuiú) passaram sobrevoando o local, Cyanocorax caeruleus (gralha azul) entre outras espécies.
Vista frontal do Perau. Fotografia de Cleberton Bianchini

Pachyramphus polychopterus (caneleiro preto). Fotografia de Astor Gabriel

Myiophobus fasciatus (filipe). Fotografia de Astor Gabriel

Tangara preciosa (saíra preciosa). Fotografia de Astor Gabriel
Elaenia obscura (tucão). Foto de Cleberton Bianchini

Stephanophorus diadematus (sanhaço frade). Fotografia de Cleberton Bianchini
          Retornamos da trilha da cachoeira por volta das 8h e seguimos para a trilha do perau. Para dar início na trilha do perau, tivemos que atravessar o rio forqueta. Neste local não tem ponte ou algo do gênero, tem que atravessar por dentro do rio mesmo. Gentilmente o proprietário do local colocou um cabo de aço para facilitar nossa travessia.
Travessia do Rio Forqueta para fazer a trilha do perau. Fotografia de Astor Gabriel.
         A trilha para o perau exige um pouco mais do observador, sendo intuitiva pois não é demarcada. Segue-se um pouco pelo caminho dos animais (bois e vacas) até o facão (denominação para local divisor de águas), depois vai seguindo em direção ao topo. Alguns locais apresenta nível difícil e apresenta um certo risco, devendo tomar certa atenção.
          Chegamos ao topo por volta de 10h e ficamos observando o que aparecia. Avistamos o Falco sparverius (quiriquiri), Cariama cristata (siriema) que saiu em disparada quando nos viu, Ammodramus humeralis (tico tico do campo), Cathartes aura (urubu de cabeça vermelha), Buteo brachyurus (gavião de cauda curta) e para finalizar, a Geranoaetus melanoleucus (águia chilena ou serrana) sobrevoou sobre nós novamente. Ficamos um pouco apreciando a vista e depois retornamos.
Linda foto do Falco sparverius (quiri quiri). Fotografia de Morci Schmidt

Vista panorâmica da lavoura localizada na parte superior do perau. Fotografia de Cleberton Bianchini

Geranoaetus melanoleucus (águia chilena ou serrana). Fotografia de Cleberton Bianchini.
          Na descida da trilha, voltávamos cansados da subida mas felizes. Ainda avistamos a águia algumas vezes entre a copa das árvores. Chegamos na cabana e preparamos o almoço. Desta vez foi um carreteiro de salame. Enquanto descansávamos, fazíamos um relato mental do que aconteceu nos momentos que estávamos no perau.
        Enquanto estivemos no perau, além das aves, também estávamos atentos a outros detalhes. É sabida a ocorrência de um sapinho na área do Perau de Janeiro, que é endêmico do local e está ameaçado de extinção. É o Melanophryniscus admirabilis (sapinho admirável de barriga vermelha), maiores informações sobre a espécie podem ser obtidas neste site.´Não encontramos ele, ficou para a próxima. Encontramos uma espécie de veado que não conseguimos identificar. Avistamos ele no meio da mata fechada, próximo ao topo do perau. Apresentava aproximadamente uns 60 cm de altura e 1m de comprimento, coloração amarronzada e pareceu-nos sem manchas. Samuel achou que fosse o Mazama nana (veado bororó do sul ou veado mão curta), mas não podemos afirmar com certeza absoluta. Tem duas espécies do gênero Mazama que estão ameaçadas de extinção no Estado, segundo o Decreto 51.797/2014. Atenção redobrada na próxima vez que visitarmos o local. Ainda, encontramos em dois pontos a Trithrinax brasilliensis (palmeira leque, carandá, buriti, entre outros nomes) que também encontra-se Criticamente em perigo de extensão, segundo o Decreto 52.109/2014. Avistamos esta espécie de palmeira próximo a trilha da cachoeira e também na trilha que leva ao topo do perau.
Trithrinax brasilliensis  próximo ao topo do Perau. Fotografia de Samuel Oliveira.
          Almoçamos, descansamos um pouco e saímos do perau por volta de 14h30min. Saímos cedo pois queríamos dar uma conferida nas espécies que apareceriam pelo caminho, visto que tem áreas com campos. No caminho até o asfalto, encontramos ainda diversas espécies (que não constam na lista), sendo: Sporagra magellanica (pintassilgo), Athene cunicularia (coruja buraqueira), Elanoides forficatus (gavião tesoura), Tyrannus savana (tesourinha), Pseudoleistes guirahuro (chopim do brejo), Furnarius rufus (joão de barro), Anthus lutescens (caminheiro zumbidor), Molothrus bonariensis (vira bosta), Embernagra platensis (sabiá do banhado), Sicalis luteola (tipio), Mimus saturninus (sabiá do campo), Tyrannus melancholicus (suiriri) e Tachycineta leucorrhoa (andorinha de sobre branco). Quando chegamos no asfalto, paramos para conferir se avistávamos novamente o X. flavus. Logo de cara avistamos vários indivíduos em uma área com gravatás. Em determinado momento, contei 14 indivíduos que iam e vinham de um lado para outro do asfalto. Certo momento, Samuel chama a minha atenção para um indivíduo de Sporophila pileata (caboclinho branco) pousado sobre um arbusto. Observamos ele por um instante e avisamos os outros, então ele cruzou o asfalto para comer umas sementinhas, então conseguimos fazer algumas fotos do fulano.

Bando de X. flavus ao lado da rodovia. Fotografia de Cleberton Bianchini

Sporophila pileata (caboclinho branco). Fotografia de Cleberton Bianchini
          O final de semana foi muito produtivo com o avistamento de inúmeras espécies. Durante nossa estadia no perau de janeiro, avistamos 93 espécies, a lista completa você pode conferir aqui. No trajeto do asfalto até o local, avistamos mais 15 espécies. Umas bem comuns, outras nem tanto, e algumas que dificilmente avistamos. Os destaque ficaram por conta da Geranoaetus melanoleucus (águia chilena ou serrana) e do Sporophila pileata (caboclinho branco). Estas duas espécies foram os primeiros avistamentos delas para o Vale do Taquari. Foram encontros sensacionais, dignos de um dia de observação.
          Particularmente, fiquei muito feliz de avistar as espécies de aves, de saber um pouco mais sobre a flora do Estado, com destaque para a Trithrinax brasilliensis (palmeira leque, carandá, buriti, entre outros nomes), de encontrar o veado no meio da trilha e, não menos importante, de estar com os amigos. Fiquei com um pouquinho de inveja ao descobrir que o Seu Morci, no auge de seus 66 anos, colocou todos nós no chinelo na subida da trilha (lhe admiro muito amigo).
          Obrigado pela companhia amigos

Nos vemos na próxima


 

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